No assentamento rural Gleba Mercedes, localizado no município de Sinop, no estado de Mato Grosso, Brasil, ocorre uma situação extraordinária com os zogue-zogue, uma espécie de primatas ameaçada pela desflorestação e em perigo de extinção.
A espécie conhecida cientificamente como Plecturocebus grovesi enfrenta ainda a elevação da água causada por uma represa hidroelétrica, o que os deixou presos em um pequeno fragmento de mata, menor que quatro campos de futebol, sem possibilidade de migrar para outros habitats.
Este caso exemplifica o impacto do desmatamento e da expansão do agronegócio na região conhecida como o “arco do desmatamento”.
O desmatamento e uma represa hidroelétrica ameaçam os zogue-zogue
Estudos ambientais revelam que a espécie já perdeu mais de 40% de seu habitat natural devido ao desmatamento no Brasil, e se esse ritmo continuar, 80% de sua população poderia desaparecer nos próximos 20 anos.
Do outro lado de sua mata, os macacos enfrentam uma segunda barreira: uma lagoa criada pela represa da usina hidrelétrica UHE Sinop, que faz parte de um complexo de quatro usinas no rio Teles Pires.
Essa superfície de água de aproximadamente 300 metros entre as duas margens é um obstáculo intransponível para os zogue-zogue. Além disso, os impactos da represa não afetam apenas os primatas, mas também a biodiversidade aquática; árvores não removidas adequadamente antes da operação apodrecem debaixo d’água, prejudicando os peixes.
A empresa Sinop Energia, operadora da represa e propriedade da EDF Brasil e Eletrobras, afirma cumprir todas as normas ambientais e mantém programas de monitoramento da qualidade da água e da fauna.
Iniciativa local de reflorestamento
Em resposta a essa situação crítica, vários membros da comunidade e com o apoio de organizações como o Instituto Ecotóno e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAR), lançaram em 2024 um projeto de reflorestamento. Em uma área de um hectare desmatada próxima à mata, foram plantadas sementes de 47 espécies nativas, com o objetivo de conectar o habitat dos macacos com outras áreas verdes.
Essa iniciativa busca criar um corredor florestal que permita aos primatas migrar e expandir seu território. Estima-se que em um prazo de cinco a sete anos, a vegetação poderia triplicar o espaço disponível para a família de zogue-zogue, marcando um passo significativo em direção à sua conservação.
Um apelo urgente à ação
O caso dos zogue-zogue em Mato Grosso reflete os dilemas enfrentados pelas espécies em perigo de extinção, presas entre as atividades humanas e a degradação de seus habitats.
A comunidade local, juntamente com organizações ambientalistas, demonstra que iniciativas de reflorestamento podem ser uma ferramenta eficaz para preservar a biodiversidade. No entanto, essas ações requerem apoio contínuo e o cumprimento das responsabilidades ambientais por parte das empresas envolvidas.
Com um enfoque colaborativo e estratégias sustentáveis, ainda há a possibilidade de reverter o impacto humano e garantir um futuro para esses primatas únicos.
Foto da capa: Pablo Porciúncula / AFP