Por uma falha inédita, o governo de Jujuy terá que restituir um terreno ancestral.

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Depois de a Justiça Federal emitir uma decisão histórica sobre o assunto, o governo de Jujuy deverá restituir uma propriedade ancestral. Além disso, terá que reparar os danos causados em outra.

Ambos pertencem aos habitantes da vila de Caspalá. No caso, foi determinado que a Província avançou no local, localizado a 3100 metros acima do nível do mar, sobre os direitos de uma comunidade de preservar suas tradições ancestrais.

Causa inédita: Jujuy deverá restituir uma propriedade ancestral

A medida inédita da Justiça Federal é o resultado de um acordo entre o Ministério Público Fiscal (MPF) e a Procuradoria do Estado provincial. Eles concordaram em pôr fim ao estado de “comoção social” que começou em 18 de novembro de 2022, de acordo com a decisão judicial.

A disputa começou há dois anos quando o governo de Jujuy invadiu uma propriedade que era usada como campo de futebol e para encontros sociais. Eles pretendiam construir uma escola secundária.

A vila de Caspalá defendeu o território ancestral.
A vila de Caspalá defendeu o território ancestral.

Diante da reação das famílias para evitar, que até mesmo tinham proposto um local alternativo para a construção, houve repressão policial e detenções.

Na vila vivem apenas 400 habitantes e foi reconhecida em 2021 pela Organização Mundial do Turismo como um dos “melhores destinos do mundo”. Isso devido à sua tranquilidade, estilo de vida rural e comunitário.

Conforme detalhou a promotora federal Lucía Romina Orsetti, posteriormente, o Estado provincial avançou, pela segunda vez. Também não realizou um estudo de impacto ambiental e afetou com maquinaria uma propriedade privada, de alto valor arqueológico.

A ideia era transferir para lá o campo de jogo reivindicado, como forma de compensação. Inclusive depois constatou-se que o Estado provincial expropriou o terreno por meio de uma lei aprovada em tempo recorde, quando o conflito com a comunidade de Caspalá já estava em andamento.

A disputa judicial

Desde então começou uma ação judicial nos tribunais provinciais e que prosseguiu na esfera Federal porque a escola projetada tinha financiamento do Estado nacional, entre outras razões.

A promotora Orsetti argumentou que, na segunda propriedade, o agravante não foi a destruição de uma simples paisagem, mas sim o dano irreparável gerado sobre estruturas de lajes subterrâneas pré-hispânicas.

Peritos especialistas as associaram com a expansão territorial do império Inca, entre os anos 1000 a 1400. Os moradores, em defesa das terras, afirmavam que seus avós reconheciam a área como “o lugar de descanso das almas ancestrais da vila”.

Segundo o antropólogo Gustavo Ontiveros, na propriedade de Cruz as máquinas “arrasaram com parte de quatro ou cinco estruturas subterrâneas que poderiam ser túmulos ou silos circulares”. Além disso, foram destruídas estruturas de “terraços arqueológicos antigos, alguns pré-hispânicos”.

Pouco depois de iniciado o caso, em junho de 2023, uma medida cautelar paralisou as obras. Embora isso tenha gerado uma série de impugnações por parte do Estado provincial, os argumentos foram tratados e rejeitados pela Câmara Federal de Apelações de Salta.

Caspalá, Jujuy.
Caspalá, Jujuy.

O acordo judicial

Diante do volume de provas que comprometiam o Estado de Jujuy, a promotora Orsetti avançou na solução do conflito por meio de uma saída alternativa voltada para “restabelecer a paz social“.

O objetivo principal foi a reparação integral dos moradores afetados, prevista no artigo 22 do Código Processual Penal Federal.

A juíza federal de Garantias N° 2 de San Salvador de Jujuy, Carina Inés Gregoraschuk, homologou o acordo, considerando-o inédito pelas características do objeto do processo.

O governo de Jujuy comprometeu-se a restabelecer as condições pré-existentes ao início do conflito. O que se aplica ao campo de futebol e à propriedade privada danificada, num prazo de 30 dias úteis. 

É importante esclarecer que este resultado não extingue as ações penais pelos danos causados, contra os funcionários estatais envolvidos no processo. Desde o ex-governador Gerardo Morales até funcionários de ministérios, e até a comissária municipal da época.

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