Em 2020, foi estabelecido que todo dia 27 de maio seja celebrado o Dia Trinacional da Floresta Atlântica, uma data simbólica para refletir sobre os desafios para a conservação deste importante ecossistema. Compartilhado por Argentina, Paraguai e Brasil, esta área abriga espécies emblemáticas como o yaguareté, o tapir, o tamanduá e uma grande variedade de plantas.
No entanto, o que se vê hoje é menos de 25% da superfície florestal original. “É o segundo bioma com maior biodiversidade na América do Sul, depois da Amazônia. Mas grande parte foi intensamente transformada”, afirma Lucía Lazzari, Coordenadora de Florestas da Fundación Vida Silvestre Argentina.

Uma rede trinacional para restaurar a selva
Na Argentina concentra-se o coração da Floresta Atlântica do Alto Paraná, conhecida popularmente no país como a selva missioneira. Nos últimos anos, o favorecimento de atividades produtivas resultou em desmatamentos principalmente nos corredores biológicos usados pela fauna.
“Temos áreas protegidas, mas elas estão se desconectando devido à perda de floresta. Os blocos de floresta estão cada vez mais fragmentados”, afirma Lazzari.
A Rede Trinacional de Restauração da Floresta Atlântica foca na recuperação desses corredores. Esta iniciativa reúne mais de 50 instituições da Argentina, Paraguai e Brasil, incluindo ONGs, universidades, órgãos estatais, pequenos produtores e povos indígenas.
“Queremos que a fauna tenha a possibilidade de se mover de forma segura pela floresta. O desafio está em recuperar zonas-chave, assim como encontrar atividades produtivas mais compatíveis com o ambiente“, destaca Lazzari.
A Rede tem como objetivo restaurar 1,6 milhões de hectares, impulsionando um trabalho multissetorial entre os três países. Em 2022, foi reconhecida pelas Nações Unidas como uma das Iniciativas Emblemáticas no âmbito da Década da Restauração de Ecossistemas.

Biodiversidade em risco
A biodiversidade da Floresta Atlântica salta aos olhos. Contém cerca de 20 mil espécies de plantas, 1100 espécies de aves, 300 espécies de mamíferos e cerca de 800 espécies de anfíbios e répteis.
Um dos casos emblemáticos é o yaguareté (Panthera onca). Segundo estimativas populacionais de 2020, cerca de 100 exemplares desses felinos habitam a Floresta Atlântica do Alto Paraná (ecorregião compartilhada pela Argentina e Brasil). Os estudos indicam que suas densidades populacionais são baixas e que é necessário tomar medidas para evitar a extinção local.
“É um predador topo, precisa de uma ampla superfície para se alimentar. Ao conservar o yaguareté, estamos conservando todo o habitat e as espécies que convivem com ele”, explica Lazzari.
Além da impactação do habitat pela mudança no uso da terra, às ameaças à fauna soma-se a pressão da caça furtiva e os atropelamentos nas estradas.
Outro elemento que impacta cada vez mais este bioma são os eventos climáticos extremos. As longas secas resultaram em incêndios florestais mais frequentes nesta floresta tropical.