Iniquidade ecológica: o valor esquecido da natureza na economia

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Como é chamado aquele que toma um bem ou serviço produzido por outro, o utiliza e não paga ao produtor? Segundo o dicionário da língua espanhola, ladrão é todo aquele que se apropria do alheio sem autorização e sem compensação alguma. Mas, o que acontece quando esse “roubo” ocorre entre o ser humano e a natureza? Surge o que pode ser chamado de iniquidade ecológica.

Imaginemos dois irmãos que herdam uma fazenda de 10.000 hectares com uma floresta nativa quase impenetrável. Esta floresta, um ecossistema cheio de vida, permaneceu intocada por séculos.

Um dos irmãos, Santiago, decide conservá-la como está, respeitando seu valor natural e sua biodiversidade. Sua reflexão é ética: Como destruir uma maravilha que levou séculos para se formar?

O outro irmão, Sergio, decide desmatar a floresta para plantar cereais e oleaginosas. Seu raciocínio é econômico: Quanto dinheiro ele conseguirá ao vender a madeira e preparar a terra para a agricultura?

Aqui é onde a ética ecológica se confronta com a ética econômica. Sergio, o produtor de oleaginosas, comprará sementes, combustível, pagará trabalhadores e usará tratores, entre outros insumos.

Mas também se beneficiará da biodiversidade de seu irmão: utilizará a fertilidade do solo, a polinização das abelhas que habitam na floresta, e a regulação do clima e das inundações proporcionadas pelo ecossistema de Santiago.

Estes serviços ecossistêmicos não têm preço, pelo menos não um visível ou reconhecido.

O valor comercial dos serviços ecossistêmicos

A pergunta é clara: Por que os serviços ecossistêmicos não têm um valor comercial? Estes serviços, essenciais para nossa vida cotidiana —o ar que respiramos, a água que consumimos, a biodiversidade que mantém nossos ecossistemas saudáveis— têm sido considerados, por muito tempo, “superabundantes” pela economia tradicional.

No entanto, essa visão está mudando. A água, o ar, a biodiversidade e a fertilidade não podem mais ser considerados bens superabundantes. São recursos finitos e seu valor deveria ser reconhecido e compensado adequadamente.

Desde a introdução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2015, a sustentabilidade deixou de ser apenas ambiental e se tornou também uma questão social e econômica.

O planeta é a base de todos os pilares do desenvolvimento. Sem um planeta saudável, não há prosperidade nem bem-estar para as pessoas.

Contra a iniquidade ecológica e em direção ao reconhecimento global dos serviços ecossistêmicos

Existem esforços como os da Bolsa de Comércio de Nova York e outras iniciativas privadas que buscam criar empresas de ativos ambientais, conhecidas como Natural Asset Companies (NACs), que venderiam esses serviços ecossistêmicos a empresas que não os produzem.

A ONU também estabeleceu diretrizes para contabilizar esses serviços por meio de seu Escritório de Biodiversidade (UNEP) em Nairóbi, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Enquanto isso, o risco de um colapso ambiental, segundo o Fórum Econômico Mundial, está se tornando cada vez mais iminente. Os últimos relatórios indicam que em apenas 10 anos poderemos enfrentar uma crise ambiental irreversível.

E enquanto isso, continuamos sendo “ladrões ambientais”, aproveitando-nos dos serviços que a natureza nos oferece sem oferecer nada em troca.

Neste contexto, surge uma pergunta fundamental sobre a iniquidade ecológica: Por que ainda não entendemos que a natureza, assim como qualquer outro bem ou serviço, deve ser remunerada?

Por Rodolfo Tarraubella, presidente da Fundação EcoConciencia.

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