No coração da Zona Leste de São Paulo, uma das regiões mais densamente povoadas da cidade, atualmente floresce um bosque onde há apenas duas décadas havia lixo, escombros e abandono. Trata-se do Parque Lineal de Tiquatira, um oásis de 192 mil metros quadrados que oferece sombra, biodiversidade e espaços de recreação para milhares de pessoas. A transformação começou graças a um único homem: Hélio da Silva.
Conhecido como “o plantador de árvores”, Silva, de 73 anos, dedicou os últimos 22 anos a reflorestar o bairro de Vila São Geraldo, entre os distritos de Penha e Cangaíba. Desde 2003, ele plantou mais de 41 mil árvores, todas registradas com cuidado, com o sonho de devolver à região sua cobertura original da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.
“Vou recuperar as árvores que havia aqui há 150 ou 200 anos”, disse a sua esposa no início do seu projeto. Contra o ceticismo de amigos, familiares e vizinhos, e depois de ver suas primeiras mudas serem destruídas, Silva não desistiu. “Quanto mais destruíam, mais árvores eu plantava”, lembra.

## De sonho pessoal a política pública
A persistência de Silva chamou a atenção do então secretário de Meio Ambiente, Eduardo Jorge, que decidiu apoiar a iniciativa e integrá-la ao plano de expansão de áreas verdes da cidade. Com esse impulso, o parque começou a ganhar forma e, atualmente, é o mais extenso de São Paulo: um corredor verde de 3 quilômetros ao longo do córrego Tiquatira, onde o lixo foi transformado em floresta.
Mas Tiquatira é muito mais do que árvores. É habitat para tucanos, cigarras e dezenas de aves, além de contar com pistas esportivas, parque de skate, trilhas e um anfiteatro. “Sempre plantei uma árvore frutífera para cada doze árvores. É uma maneira de atrair vida”, explica Silva.
Além da beleza e do lazer, o parque também é um alívio para o calor urbano. “Aqui se sente o frescor, mesmo vindo da rua próxima”, diz Mariana, uma jovem que o visita para se exercitar. A física Regina Maura de Miranda, da Universidade de São Paulo, destaca que áreas arborizadas como esta “são essenciais para reduzir a temperatura em áreas densamente urbanizadas”.
## Uma transformação de infraestrutura que representa uma mudança de vida
Neide, que trabalha no parque vendendo bebidas, garante que a transformação de Tiquatira mudou sua vida. “Este lugar representa minha história, meu sustento e minhas amizades. Não troco por nada”.
Silva, que ainda percorre o parque diariamente, continua plantando árvores por conta própria. Seu próximo objetivo é alcançar as 50 mil. Além disso, ele sonha em instalar bibliotecas públicas dentro do parque e incentivar uma nova geração de guardiões do verde.
“Já fiz um acordo com Deus: não vou morrer, me tornarei uma árvore”, diz entre risos. “E quando você vier falar comigo, talvez eu responda… só não se assuste”. Tiquatira, atualmente, é testemunho de que um único cidadão pode regenerar não apenas o ambiente, mas também o ânimo de toda uma comunidade.

## Autopista Dellepiane: perto de se tornar a primeira “Autopista-Parque”
O plano abrangente também inclui a criação de uma autopista-parque linear de 260.000 metros quadrados, com trilhas para pedestres, áreas de descanso, equipamentos de exercício e espaços recreativos. Além disso, serão realizadas melhorias na infraestrutura urbana, como reparação de lajes de concreto, construção de novas calçadas e passarelas elevadas, e otimização do sistema de drenagem para mitigar inundações na Bacia Cildañez.
Com um investimento que já ultrapassa os 100 milhões de dólares, a transformação da autopista Dellepiane busca torná-la um modelo de mobilidade sustentável e espaço urbano integrado para os moradores de Lugano e Parque Avellaneda. Estima-se que as obras estejam concluídas em 2027.
Fonte: BBC