A fronteira entre os Estados Unidos e o México, que se estende por 3.152 km de Tijuana até o Golfo do México, não apenas representa uma linha divisória política, mas também uma barreira significativa para a biodiversidade que habita ambos os lados do muro fronteiriço. Esse muro, equipado com detectores de movimento, iluminação intensa, sensores eletrônicos e vigilância constante, fragmentou ecossistemas e afetou gravemente a vida selvagem.
Um estudo recente publicado em Frontiers in Ecology and Evolution demonstra o impacto do muro na fauna selvagem. Com base em mais de quatro anos de registros por meio de câmeras armadilha ao longo de 163,5 km entre Sonora, México, e Arizona, Estados Unidos, os dados mostram que apenas 9% das interações dos animais com o muro resultaram em cruzamentos bem-sucedidos. Para espécies grandes como jaguares, pumas e ursos negros, as barreiras reduziram quase a zero suas chances de atravessar.
Esta região, conhecida como “Ilhas do Céu”, é um ponto quente de biodiversidade e lar de espécies ameaçadas como o jaguar (Panthera onca) e o lobo mexicano (Canis lupus baileyi). No entanto, o muro interrompe os corredores naturais de migração que essas espécies precisam para encontrar alimento, água e abrigo, expondo-as a maiores riscos.
O muro fronteiriço e sua biodiversidade
As câmeras documentaram casos comoventes, como o de um urso negro que passou horas tentando atravessar a barreira sem sucesso. As aberturas projetadas para passagem da fauna são mínimas e, na maioria dos casos, inadequadas. Embora animais pequenos como raposas e guaxinins tenham conseguido cruzar, grandes mamíferos como veados e perus selvagens não conseguiram. Mesmo os pumas, apesar de sua agilidade, encontraram dificuldades crescentes ao tentar atravessar as barreiras.
O estudo destaca que o muro não afeta apenas indivíduos, mas também tem consequências a nível populacional. A interrupção dos movimentos naturais pode levar à perda de resiliência das espécies e a mudanças genéticas em gerações futuras.
Mitigação e soluções
Os especialistas sugerem medidas urgentes para reduzir os impactos negativos do muro, incluindo a instalação de mais passagens para fauna, projetadas para diversas espécies e localizadas estrategicamente a cada 5 ou 10 metros. Também é necessário realizar pesquisas mais aprofundadas sobre como mitigar os efeitos do muro, incluindo o uso de tecnologias como GPS para rastrear o movimento dos animais.
Além disso, propõem que qualquer futura infraestrutura fronteiriça considere variáveis como o impacto da iluminação e de outros dispositivos de segurança em aves, morcegos e insetos, que também são parte essencial dos ecossistemas.
Os muros fronteiriços, concluem os especialistas, mostraram ser ineficazes para controlar a migração humana, mas devastadores para a biodiversidade. “Precisamos de soluções para problemas sociais complexos, não de barreiras físicas destrutivas que simbolizam o medo e a divisão”, afirma Myles Traphagen, coordenador do programa Borderlands. Proteger a vida selvagem nessas áreas críticas é essencial não apenas para preservar a biodiversidade, mas também para garantir o equilíbrio dos ecossistemas a longo prazo.
Quais são as espécies que habitam esta fronteira?
Na fronteira entre México e Estados Unidos habitam jaguares, ocelotes, gambás americanos, ursos, leões da montanha, veados, carneiros de chifres grandes, quatis, chulas e aves migratórias.
No entanto, a biodiversidade da fronteira entre México e Estados Unidos está ameaçada pelo muro fronteiriço, que coloca em perigo sua sobrevivência.
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