A depredação no Rio Paraná ocorre pela exuberante rede de canais e riachos do Delta do Paraná, um ecossistema de vital importância que está sob a crescente ameaça da pesca furtiva em grande escala.
Relatos crus, capturados em áudios aos quais o Noticias Ambientales teve acesso, expõem uma realidade alarmante: a extração em massa do dourado, uma espécie emblemática e protegida, está sendo realizada com uma impunidade desconcertante diante da aparente inércia das autoridades competentes.
A frustração e a impotência ressoam nas vozes daqueles que testemunham a depredação no Rio Paraná. Um guia local, em um dos áudios, descreve com angústia o cenário: “Estão destruindo tudo”. Seus esforços para alertar a Prefeitura Naval Argentina, o Centro de Operações Tigre (COT) e outras entidades foram em vão: “ninguém deu bola”. Sua preocupação se concentra na alarmante seletividade da pesca, onde “são todos dourados, não há nem um sável“, apontando o Arroyo Claro e a área de “Villa La Ñata” como pontos de descarga dessa atividade ilícita.
Outro relato, igualmente revelador, detalha uma operação em grande escala em Arribeños Sur. A gravação descreve como, no meio da madrugada, a atividade é frenética: “carregaram dois caminhões, um semi e um sider às 6 da manhã“.
A situação se repetiu pouco depois com a circulação de “mais dois caminhões” carregados. A resposta das autoridades à denúncia foi desanimadora: “Liguei para a prefeitura, me disseram que já estavam indo, liguei para a polícia e me disseram que não tinham jurisdição”. A descrição contundente da carga não deixa dúvidas: “todos dourados retiraram. Todos os caixotes cheios de dourados”, com os caminhões localizados em “terra sobre Arribeños Sur“.
Esses relatos obtidos pelo Noticias Ambientales, que a pedido dos declarantes mantemos sob anonimato, destacam um quadro preocupante que exige uma atenção urgente. A aparente liberdade com que esses pescadores furtivos operam, somada à falta de uma resposta eficaz por parte das autoridades, gera uma profunda preocupação sobre o futuro do dourado e o equilíbrio ecológico do Delta.
O marco legal e a realidade da pesca furtiva
A pesca comercial do dourado é explicitamente proibida na Argentina pela Lei 26.021, que declara esta espécie de interesse nacional, priorizando seu valor turístico e ecológico. A legislação restringe sua captura à pesca esportiva com devolução. Na província de Buenos Aires, a Direção de Atividades Pesqueiras e Aquicultura estabelece regulamentações específicas, como tamanhos mínimos e períodos de proibição, especialmente na época de reprodução. A nível local, o município de Tigre complementa essas normas com restrições em certas áreas.
No entanto, como evidenciam os áudios, a realidade no Delta parece distante do que a lei estabelece. A pesca furtiva persiste, ameaçando a sobrevivência do dourado e o delicado equilíbrio do ecossistema.
Um pescador local, cuja voz é ouvida nos áudios, lamenta: “A pesca furtiva está reduzindo a quantidade de exemplares, o que torna cada vez mais difícil encontrar dourados em algumas áreas-chave“.
Estudos recentes alertam sobre o impacto da diminuição do dourado na cadeia alimentar do Delta, o que poderia gerar um desequilíbrio ecológico com consequências imprevisíveis. A falta de um controle eficaz e sanções severas permite que essa atividade ilegal continue prosperando.
A urgente necessidade de ação
Combater a pesca ilegal do dourado no Delta do Paraná requer um esforço coordenado e urgente. É fundamental fortalecer os controles por parte de organismos como a Prefeitura Naval Argentina, entre outros, dotando-os dos recursos necessários para uma fiscalização efetiva.