Aguardente de uva: de resíduos a recursos na luta contra o câncer

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A bagaceira de uva é o principal subproduto sólido gerado durante a elaboração do vinho, e geralmente é considerado um resíduo. No entanto, a crescente preocupação com o impacto negativo para o meio ambiente que o mau manejo dos resíduos agroindustriais representa incentivou a busca pelo gerenciamento ou aproveitamento dos subprodutos.

Nesse sentido, diversas pesquisas têm demonstrado o potencial da bagaceira de uva como uma fonte para a obtenção de diversos compostos bioativos (compostos com propriedades biológicas benéficas para o ser humano), que poderiam ser aproveitados na indústria alimentícia, cosmética ou farmacêutica.

Em outras palavras, embora não sejam considerados nutrientes, seu consumo através do consumo de vegetais está altamente relacionado a benefícios para a saúde. Tem efeitos antialérgicos, anti-inflamatórios, antimicrobianos, antitrombóticos, anticancerígenos, cardioprotetores e, sobretudo, antioxidantes.

Pesquisa e colaborações estratégicas

Não é surpreendente que atualmente esteja em andamento uma pesquisa voltada para a saúde humana.

O projeto surge de um acordo entre o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) e a Bodega Trivento. Ele se concentra em pesquisar as propriedades antitumorais de subprodutos derivados da produção de vinho e azeite de oliva, como a bagaceira e o alperujo (combinação de água de vegetação, polpa e restos de caroço de azeitona).

Durante todo o processo de elaboração do vinho, são geradas várias e grandes quantidades de resíduos. Dentro desses resíduos, a bagaceira representa o maior resíduo sólido, chegando a até 30% do peso total das uvas produzidas nos vinhedos. Estima-se que a cada 6 litros de vinho produzidos, 1 quilo de bagaceira de uva é obtido.

Uma aliança com impacto triplo

Marcos Jofré, CEO da Trivento, destacou que “Celebramos este acordo com o organismo de pesquisa mais importante da Argentina. É uma honra trabalhar junto à equipe do CONICET em um projeto tão nobre que agrega valor a um subproduto chave da viticultura, um setor estratégico para a economia nacional”.

Por sua vez, Walter Manucha, pesquisador do CONICET e diretor do Instituto de Medicina e Biologia Experimental de Cuyo (IMBECU), enfatizou a relevância da colaboração, afirmando que “Os acordos público-privados em áreas de investimento, capacitação e transferência são fundamentais para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. O potencial do CONICET no campo da saúde é significativo e deve ser comunicado à sociedade.”

Além disso, Ricardo Masuelli, diretor do Instituto de Biologia Agrícola de Mendoza (IBAM), ressaltou que o aproveitamento dos “resíduos que geralmente acabam em compostagem para transformá-los em compostos úteis para a saúde humana é um exemplo do valor agregado pela pesquisa aplicada.”

Impacto da pesquisa sobre o uso da bagaceira de uva

A equipe responsável pelo projeto é composta por especialistas do IMBECU e do IBAM, ambos pertencentes ao CONICET. Mendoza, conhecida por sua produção de vinho e azeite de oliva, enfrenta um desafio ambiental significativo devido aos resíduos gerados por essas atividades.

Entre as descobertas-chave, a bagaceira e o alperujo foram identificados como fontes de compostos fenólicos bioativos com potencial na prevenção de tumores nos rins, cólon, mama e próstata, tipos de câncer com alta incidência na Argentina.

Constanza López Fontana, pesquisadora do CONICET, explicou que “Existe uma tendência em buscar compostos naturais para prevenir doenças. Os polifenóis presentes na uva e na azeitona têm efeitos benéficos para a saúde.”

Por fim, Joana Boiteux, pesquisadora do IBAM, destacou a importância do trabalho interdisciplinar: “A integração de perspectivas e conhecimentos entre o IMBECU e o IBAM tem sido fundamental para propor soluções inovadoras que beneficiem a indústria, o meio ambiente e a população em geral.”

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