Apenas existem dois tipos de animais capazes de transportar objetos grandes cooperando: os humanos e as formigas. Entre as 15.000 espécies de formigas, apenas 1% possui a inteligência para trabalhar e alcançar esse feito de forma coletiva.
Um grupo de entomologistas utilizou um experimento próprio da informática e da inteligência artificial para comparar as habilidades cognitivas de insetos e humanos, tanto individualmente quanto em equipe. Em igualdade de condições, as formigas nos superam em inteligência coletiva.
A formiga louca de chifre longo (Paratrechina longicornis) pertence a esse 1% que une forças e cérebros diante de quebra-cabeças complexos. Essas formigas se movem em todas as direções quando encontram algo valioso, demonstrando uma inteligência coletiva.
O laboratório de Ofer Feinerman, do Instituto Weizmann de Ciência em Israel, estudou essas formigas por anos. Em seu último experimento, eles projetaram um desafio no qual as formigas precisavam retirar um pedaço de madeira em forma de T de uma sala através de portas estreitas. Posteriormente, replicaram o experimento em escala humana, com Ts de diferentes tamanhos e várias salas.
Resultados do experimento e a inteligência coletiva das formigas
Os resultados, publicados na revista PNAS, revelam como emerge a inteligência coletiva nas formigas e como os humanos enfrentam dificuldades ao trabalhar em grandes grupos.
Conforme mais indivíduos são adicionados, tanto insetos quanto humanos podem levantar mais peso. No entanto, a soma das inteligências individuais não equivale à coletiva. As formigas que tentavam retirar Ts pequenos falhavam mais frequentemente individualmente, e rendiam melhor em grandes quantidades, graças a uma espécie de memória emergente.
Feinerman explica que uma formiga sozinha não lembra a direção de seu movimento por muito tempo e muda constantemente de direção, especialmente se colidir com uma parede. Por outro lado, um grupo de formigas pode lembrar a direção e persistir, mesmo se a carga bater em uma parede.
Essa habilidade de memória emergente pode ter uma base evolutiva, já que as formigas loucas tendem a desistir diante do menor conflito e só conseguem obter alimento cooperando rapidamente.
Comparação das habilidades cognitivas entre formigas e humanos
Em escala individual, os humanos sempre superaram as formigas. Agrupados, em grupos pequenos ou grandes, os humanos também foram mais eficientes manejando as Ts. No entanto, em uma variação do experimento, as formigas superaram os humanos quando estes não podiam se comunicar verbalmente ou com gestos.
Os pesquisadores utilizaram máscaras e óculos de sol escuros para igualar a capacidade de comunicação entre as espécies. Os resultados mostraram que, na maioria das tentativas, as formigas foram mais eficientes.
Feinerman observa que as pessoas em um grupo não comunicativo começam a se comportar mais como formigas e seu desempenho diminui. Esse experimento permitiu conhecer melhor as habilidades cognitivas das formigas loucas como grupo, assim como as dos humanos.
Os autores concluem que mentes simples podem aproveitar a escalabilidade com facilidade, enquanto cérebros mais complexos necessitam de ampla comunicação para cooperar eficientemente.