A Cúpula da Biodiversidade da ONU, conhecida como COP16, que ocorreu nas últimas duas semanas em Cali, Colômbia, acaba de terminar. Embora talvez essa não seja a palavra adequada. Depois que a plenária (o momento em que os mais de 190 países tomam decisões) foi adiada para começar às 22h de sexta-feira e se estendeu durante toda a noite até às 8h de sábado, a reunião foi suspensa por falta de quórum.

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Justo quando se discutia um dos pontos mais delicados dessas negociações, o de mobilização de recursos financeiros, que inclui a criação de um novo fundo para a biodiversidade fora do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), Brasil e Panamá solicitaram uma contagem de quórum. A sessão havia se estendido muito além do esperado, e os negociadores de vários países tiveram que retornar aos seus respectivos locais.

O delegado do Panamá, por exemplo, explicou que era o único que restava na plenária dos dez que haviam chegado a Cali. “Meu voo sai em três horas”, comentou. Anteriormente, a representante de Fiji havia alertado que era a única delegada de todas as ilhas do Pacífico presente na sala: “Ao contrário de outros países, não temos recursos para mudar nossos voos”, observou. O contraste visual era evidente: enquanto os porta-vozes da União Europeia estavam acompanhados por várias pessoas, os de Panamá e Fiji estavam cercados por cadeiras vazias.

Essa suspensão não significa que as negociações da COP16 tenham concluído. Deverá ser estabelecida outra data e local para continuá-las, e até mesmo poderiam ser realizadas virtualmente. O restante das decisões tomadas antes da suspensão continuam válidas.

### Acordos para povos indígenas e afrodescendentes

Ao longo da noite, a COP16 conseguiu acordar vários temas que geraram controvérsia nas últimas duas semanas. Entre eles, decidiu-se que os povos indígenas e as comunidades locais se tornem um grupo consultivo permanente da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (CDB) e que o conhecimento ancestral dos afrodescendentes seja reconhecido, uma demanda apresentada por Colômbia e Brasil no início da conferência. Esses acordos foram alcançados no início da plenária, na noite de sexta-feira, 1º de novembro, quando, teoricamente, a COP16 deveria terminar. O clima era de celebração.

![Delegados celebram após a aprovação de uma medida para reconhecer o papel dos afrodescendentes na conservação, na cúpula da natureza COP16 das Nações Unidas em Cali, Colômbia, em 1º de novembro de 2024. © Camilo Rodriguez (Reuters)](https://storage.googleapis.com/media-cloud-na/2024/11/reconocimiento-a-los-afrodescendientes.jpeg)

Os delegados comemoraram após a aprovação de uma medida para reconhecer o papel dos afrodescendentes na conservação, na cúpula da natureza COP16 das Nações Unidas em Cali, Colômbia, em 1º de novembro de 2024.

No entanto, os temas mais espinhosos foram deixados para o final. A adoção e as regras de operação de um organismo multilateral para que empresas, como as farmacêuticas, compartilhem os benefícios obtidos de produtos criados a partir de informações de sequências genéticas que pertencem a países com alta biodiversidade ou a comunidades locais, foram aprovadas às 7h35 de sábado na Colômbia. Este assunto foi adiado várias vezes durante a noite para avançar com outros elementos da agenda menos polêmicos.

O ponto de ruptura foi a discussão sobre as finanças. Especificamente, a proposta liderada pela presidência da COP16 de criar um fundo para biodiversidade independente do GEF. Os países em desenvolvimento não estão satisfeitos com a gestão dos recursos por esta entidade. Algumas críticas apontam que na tomada de decisões do GEF participa os Estados Unidos, um dos dois países que não fazem parte do convênio de biodiversidade, e que para as negociações de mudanças climáticas existem fundos independentes.

Enquanto os países africanos e muitos latino-americanos têm solicitado este fundo, Canadá, União Europeia e Suíça se mostraram contrários durante a plenária. “Criar um novo fundo é prematuro, algo sobre o qual poderíamos falar na COP18 [que será realizada em quatro anos]”, disse o delegado da Suíça, explicando que o fundo de biodiversidade sob o GEF foi criado há dois anos e tem prazo até 2030.

![Susana Muhamad, ministra colombiana do Meio Ambiente, preside a sessão de encerramento da cúpula sobre natureza COP16 das Nações Unidas em Cali, Colômbia, em 1º de novembro de 2024. © Camilo Rodriguez (Reuters)](https://storage.googleapis.com/media-cloud-na/2024/11/susana-muhamad-ministra-de-colombia.jpeg)

**Susana Muhamad, ministra colombiana do Meio Ambiente, preside a sessão de encerramento** da cúpula sobre natureza COP16 das Nações Unidas em Cali, Colômbia, em 1º de novembro de 2024.

### Brasil e Colômbia solicitaram revisar o quórum

No meio desta discussão, o Brasil – um aliado da Colômbia na maior parte das negociações – lembrou que havia um pedido para revisar o quórum para tomar esse tipo de decisões tão importantes. Minutos depois, a ministra do Meio Ambiente colombiana, Susana Muhamad, que preside a COP16, anunciou que efetivamente não havia o número mínimo de representantes necessários e a sessão foi suspensa.

Embora ainda não tenha sido emitido um comunicado pela secretaria da convenção sobre o que acontecerá – já que é bastante incomum que as COP sejam suspensas dessa forma -, o Ministério do Meio Ambiente lançou um tweet bastante otimista: “Neste momento, após mais de 13 horas de intensa plenária e um dia de negociações árduas, encerramos um dia histórico na COP16 Colômbia”.

No entanto, nem todos os assuntos foram encerrados. E como explicou o meio Carbon Brief, esta COP16 “é oficialmente a COP de biodiversidade mais longa da história”.

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