A falta de neve no Himalaia registrada desde o último inverno preocupa os especialistas. A ponto de temerem que milhões de pessoas que dependem da água do degelo fiquem sem recursos.
Mais precisamente, um quarto da população mundial precisa para seu abastecimento. O risco de escassez gerado por esse problema ambiental é “muito grave”.
Pouca neve no Himalaia: por que isso acontece
Desde o Afeganistão até a China, e do Paquistão até o Vietnã, correm o risco de sofrer com a sede (e a fome, devido aos efeitos nas colheitas). Isso ocorre devido a um ano de nevascas excepcionalmente inferiores à média no Hindu Kush e no Himalaia (HKH) na Ásia Central.
É o que alerta o relatório anual sobre a temporada de neve do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado das Montanhas (Icimod), uma associação sediada no Nepal e que conta com a participação de oito nações da região.
A falta de neve no inverno passado nas montanhas mais altas do mundo já havia sido mencionada em janeiro e amplamente discutida nos meios de comunicação indianos.
“Em treze dos últimos 22 anos, a permanência da neve no solo no HKH foi inferior à média”, comentou Sher Muhammad, especialista do Icimod e um dos autores do relatório anual.
As nevascas diminuíram no Himalaia.
“A pouca neve, que derrete rapidamente, aumenta o risco de escassez de água e seca, especialmente este ano”. Esse problema pode ser explicado por uma combinação de fenômenos.
Pouca neve no Himalaia: as causas
1. Menos “perturbações ocidentais”
Na região afetada, no inverno, a neve chega por meio do que os meteorologistas indianos chamam de perturbações ocidentais, ou seja, perturbações que vêm do Ocidente.
São sistemas de baixas pressões que se formam entre o Mediterrâneo oriental e o Mar Negro, percorrem a Anatólia, o Irã e o Afeganistão por milhares de quilômetros até atingir os bastiões de 8000 metros entre a Índia, o Nepal e a China.
O fenômeno El Niño, que se soma à fase atual de aquecimento global causada por dois séculos de atividades humanas, é uma combinação letal. O Mediterrâneo, e em particular a região oriental, é o mar que mais se aquece, atingindo temperaturas superficiais acima de 30 graus no verão.
Tudo isso resulta em uma alteração na frequência, intensidade e trajetória das perturbações ocidentais que trazem neve para a Ásia Central. E elas estão mais fracas.
2. Pouca água nos rios da Ásia
Aproximadamente 23% do fluxo dos 12 principais rios que têm sua origem na região se deve ao degelo. O resultado da pesquisa do Icimod destaca a menor persistência da camada de neve nas respectivas bacias, que variam de -31,8% no Helmand (que deságua no Afeganistão) a -1,1% no Mekong, vital para Laos, Camboja e Vietnã, passando pelo Ganges (-17%) e pelo Indo (-23,3%).
Na China, apenas o rio Amarelo é positivo (+20,2%) porque flui mais ao norte e suas fontes se beneficiam das correntes geladas que descem da Sibéria, enquanto o Yangtsé perde 13,2%.
3. Glaciares em recuo
O problema do degelo dos glaciares.
Entre 2011 e 2020, os glaciares do Himalaia, assim como acontece com esses gigantes de gelo em todo o planeta, derreteram 65% mais rápido do que na década anterior, segundo o Icimod. A esse ritmo, até o final do século, esses glaciares poderiam perder 80% de seu volume.
Uma análise publicada pela Nature realizada em 14.798 glaciares do Himalaia constatou que, desde um pico de 28.000 quilômetros quadrados na Pequena Era do Gelo, agora cobrem uma área inferior a 40% e estão recuando a uma velocidade sem precedentes em outras partes do mundo.