A agricultura contemporânea é difícil de entender sem o uso de pesticidas, compostos químicos naturais ou artificiais destinados a intoxicar os artrópodes e outros animais que possam ameaçar as plantações.
Estes compostos permitem que a integridade das nossas colheitas não dependa de pragas periódicas nem que percamos uma fração da nossa produção consumida por esses animais a cada ano.
Problemas que transcendem a agricultura associados aos pesticidas
Os pesticidas levantam dois grandes problemas. O primeiro, sobre a saúde humana: se esses compostos acabarem na nossa cadeia alimentar, podem representar um risco para a nossa saúde.
O segundo risco é ambiental: esses compostos podem se espalhar para além dos nossos pomares e estufas, causando danos ao meio ambiente.
A possibilidade de consumir substâncias tóxicas em nossos alimentos assusta. É normal. Mas será que realmente seria justificado eliminar categorias inteiras da nossa dieta por medo dos pesticidas? Talvez antes de tirar conclusões seja importante ter uma noção da magnitude do problema.
Legislação e magnitude do problema
Uma magnitude que pode variar dependendo da nossa localização: cada país tem uma legislação própria para regular o uso de pesticidas, mas também a capacidade de fazer valer essas leis pode depender do nosso contexto geográfico.
Na Europa, a Agência Ambiental Europeia (EEA) publicou em 2023 um relatório analisando o impacto dos pesticidas no meio ambiente e na nossa saúde.
Eles observaram, por exemplo, níveis “acima do preocupante” em 22% dos pontos monitorizados em rios e lagos do continente. Também mencionaram um estudo publicado em 2019 no qual foram encontrados resíduos de pesticidas em 83% dos solos agrícolas da Europa.
Presença de pesticidas em nossos corpos
Mas o rastro dos pesticidas não é seguido apenas no ambiente, mas também em nossos próprios corpos. Neste caso, a EEA faz referência a um estudo que monitorou participantes em cinco países europeus entre 2014 e 2021.
O resultado: encontraram indícios da presença de pelo menos dois tipos de pesticidas em 84% da amostra. De acordo com a agência, os níveis detectados geralmente eram mais altos em crianças em comparação com os adultos.
Impactos sobre a saúde
E quais consequências os pesticidas podem ter sobre nossa saúde? Tudo depende do pesticida e da dose. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os pesticidas são “potencialmente tóxicos para os seres humanos e podem ter efeitos agudos e crônicos na saúde, dependendo da quantidade e da forma como uma pessoa é exposta”.
As pessoas mais expostas a esses agentes não são necessariamente os consumidores, mas sim aquelas que os manipulam, seja em seu trabalho, seja em suas casas e hortas, acrescenta a agência da ONU.
A EEA aponta alguns dos potenciais efeitos sobre nossa saúde. Estes incluem cânceres como linfoma não-Hodgkin, ovários e próstata; problemas neurológicos como doenças de Parkinson e Alzheimer; doenças cardiovasculares; problemas no desenvolvimento das crianças; problemas reprodutivos tanto em homens quanto em mulheres; e problemas cognitivos, entre outros.
Há solução?
A pergunta óbvia é, há solução? Lavar as frutas e verduras que vamos consumir é um ato simples que ajuda a reduzir nossa exposição a esse tipo de agentes. Mas não resolve o problema: essa ação não elimina todos os pesticidas usados na agricultura, não evita outras formas de exposição e não consegue reduzir sua presença no meio ambiente.
Em sua entrevista com a BBC, Navarro de Castro propôs uma solução simples e ao alcance dos consumidores. “Do ponto de vista coletivo, poderíamos fazer mil coisas simples como comer sazonalmente”, adquirir consciência da origem de cada produto que levamos para nossas casas (e para nossos estômagos)”.
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