Depois de uma jornada de quatro horas pela selva tropical no Peru, surge La Bomba: um rio que ferve a 45 graus. Também conhecido como Shanay-timpishka ou Hirviente, faz parte de um afluente do centro-leste do país que se conecta com o caudaloso rio Amazonas.
Emana enormes colunas de vapor e é lendário. Como aumenta sua temperatura e quais as implicações para o ambiente.
Como é La Bomba, o rio que ferve a 45 graus
Enormes colunas de vapor se elevam de um grupo de árvores na ampla depressão em forma de prato que se encontra abaixo.
Os pesquisadores determinaram que ele aquece devido a fontes geotérmicas nas profundezas do subsolo.
O rio que ferve no Peru. (Foto: BBC).[/caption>
“Você só o vê à frente depois de passar por um pico da paisagem”, explica Alyssa Kullberg, pesquisadora pós-doutoral em ecologia vegetal da Escola Politécnica Federal de Lausana (Suíça), à BBC.
Kullberg visitou este local pela primeira vez em 2022 junto com uma equipe dos Estados Unidos e do Peru, entre os quais estava Riley Fortier, que descreveu as mudanças na paisagem. “Para todos nós, era evidente que havia uma mudança clara e notável ao longo do rio”, afirmou.
“A floresta parecia mais arbustiva. Não havia tantas árvores grandes e também parecia um pouco mais seco, a folhagem estava mais crocante”, acrescentou.
Além disso, conforme descreveram os cientistas, o calor é sentido com muito mais intensidade. Ele e outros membros da equipe perceberam que este local representava um possível vislumbre de como a mudança climática poderia alterar a Amazônia, à medida que o aquecimento global eleva a temperatura média do ar acima do atual.
Nesse sentido, pensaram que o rio Hirviente poderia ser considerado uma espécie de experimento natural, um possível vislumbre do futuro.
Até que temperatura o rio chega
Em um artigo publicado em outubro, Fortier, Kullberg e seus colegas dos Estados Unidos e do Peru relataram como registraram durante um ano a temperatura do ar perto do rio Hirviente.
Eles utilizaram 13 dispositivos de medição de temperatura ao longo de um trecho do rio que incluía áreas mais frescas, típicas da floresta. A temperatura média anual oscilou entre 24-25 °C nos locais mais frios e 28-29 °C nas áreas mais quentes.
As temperaturas máximas do ar registradas em alguns dos locais mais quentes ao longo do rio que ferve se aproximaram dos 45 °C.
Uma análise anterior (ainda não publicada em uma revista revisada por pares) do cientista geotérmico Andrés Ruzo concluiu que a temperatura média da água é de 86 °C.
Sinais de mudança climática
O rio La Bomba é um exemplo de como a Amazônia poderia mudar no futuro, afirmou Diego Oliveira Brandão, membro da secretaria técnico-científica do Painel Científico para a Amazônia, uma organização de pesquisa científica.
Uma amostra da mudança climática?
Ele ressaltou sua preocupação com o impacto que essas consequências da mudança climática poderiam ter sobre as populações indígenas. “Essas populações dependem dos recursos biológicos“, diz.
Outro ponto fundamental é que, ao aumentar a temperatura, mesmo que haja disponibilidade de água, a capacidade fotossintética das plantas poderia diminuir.
Kullberg acrescentou que, embora o rio mostre como o aumento das temperaturas poderia afetar a biodiversidade e o crescimento das plantas, é importante lembrar que esta parte da Amazônia pode não refletir exatamente o futuro da selva tropical em um sentido amplo.