A China está inovando no cultivo sob painéis solares flutuantes, e encontrou a espécie ideal: os pepinos-do-mar (Apostichopus japonicus).
A energia solar fotovoltaica combina-se com a aquicultura em uma abordagem chamada acualvoltaica, desenvolvida na China. Esta técnica integra a geração de energia renovável com o cultivo de pepinos-do-mar, trazendo benefícios tanto ambientais quanto econômicos.
Os pepinos-do-mar são invertebrados marinhos relacionados com as estrelas-do-mar e os ouriços, possuem corpos alongados e habitam em fundos oceânicos.
Na China, são um ingrediente valioso na gastronomia e na medicina tradicional. No entanto, seu cultivo enfrenta desafios como as altas temperaturas da água, que podem causar mortalidade em massa ou induzir a estivação (hibernação estival), retardando seu crescimento.
Estudo de impacto das fazendas fotovoltaicas
Investigadores chineses realizaram um estudo de um ano para avaliar o impacto das fazendas fotovoltaicas na aquicultura de pepinos-do-mar. O estudo, desenvolvido no delta do Rio Amarelo, focou em analisar como a sombra dos painéis solares afeta o ambiente aquático e o crescimento dos pepinos-do-mar.
O local contava com uma planta solar de 200 MW, onde vários tanques estavam parcialmente cobertos por painéis solares instalados a uma altura mínima de 1,5 metros sobre a água. Foram comparados seis tanques de 6,7 hectares e 1,5 metros de profundidade: três com sombra parcial de painéis solares e três sem cobertura.
China e seu plano para cultivar sob painéis solares
Resultados positivos e potencial de rendimento
Os resultados obtidos foram encorajadores. Os painéis solares reduziram a intensidade luminosa em 80,5% e a temperatura da água em 1,2°C nos tanques sombreados, em comparação com os tanques não cobertos. Essa moderação térmica gerou condições mais favoráveis para o crescimento do Apostichopus japonicus.
Uma das descobertas mais relevantes foi a redução do tempo de estivação. Os pepinos-do-mar subadultos encurtaram esse período em 12 dias, enquanto os adultos reduziram em 1 dia, permitindo mais tempo de crescimento ativo.
De acordo com registros de produtores locais, os tanques com painéis solares alcançaram um rendimento estimado de 900 quilogramas por hectare, em comparação com os 750 quilogramas por hectare nos tanques sem sombra. Embora esses dados não tenham sido verificados diretamente pelos pesquisadores, os resultados preliminares sugerem um impacto positivo na produção.
Impacto ambiental e monitorização
O estudo também indicou que a integração de painéis solares sobre os tanques não afetou negativamente a qualidade da água, a composição do plâncton nem o processo digestivo dos pepinos-do-mar. No entanto, foi observado um aumento sazonal de algas Pyrrophyta e uma diminuição do zooplâncton, destacando a importância da monitorização contínua para prevenir desequilíbrios no ecossistema.
A abordagem acualvoltaica representa uma alternativa inovadora para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e otimizar os recursos naturais. A combinação de geração de energia solar e aquicultura permite aproveitar melhor os espaços costeiros e reduzir o impacto ambiental. Além disso, esse sistema contribui para a transição para fontes de energia renovável, alinhando-se com os objetivos globais de sustentabilidade.
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