Gripe aviária: elefantes-marinhos levariam 100 anos para se recuperar

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O futuro dos elefantes-marinhos do sul na Península Valdés, Patagônia argentina, passa por um momento crítico. De acordo com um estudo recente publicado na Marine Mammal Science, a população poderia levar até um século para se recuperar do devastador surto de gripe aviária H5N1 que atingiu a região em 2023. A epidemia causou uma alta mortalidade entre os filhotes, e também afetou um número ainda desconhecido de adultos reprodutores.

A pesquisa, desenvolvida por especialistas da WCS Argentina, do CONICET e da Universidade da Califórnia Davis, analisou diferentes cenários de recuperação populacional. Se o vírus tivesse impactado apenas os filhotes —onde a mortalidade é naturalmente elevada—, a população poderia ter se recuperado para os níveis de 2022 (18.000 fêmeas reprodutoras) entre 2029 e 2051. Mas se também houve uma perda significativa de adultos, a data estimada de recuperação se estenderia até 2091.

O cenário se torna ainda mais sombrio nos casos em que a doença afetou as fêmeas reprodutivas e alterou as estruturas sociais do grupo devido à morte de machos adultos, o que reduziria as oportunidades reprodutivas. No pior dos cenários, no qual o vírus se repete ou afeta recorrentemente indivíduos suscetíveis, a população só poderia atingir números similares aos de 2022 por meados do século XXII.

O trabalho foi baseado em décadas de monitoramento e dados de saúde animal, o que permitiu modelar o impacto com grande precisão. A primeira prova dessas previsões veio com a temporada reprodutiva de 2024, cujas contagens revelaram um dado alarmante: a quantidade de fêmeas reprodutoras nas áreas de maior densidade caiu 67%, de 6.938 em 2022 para apenas 2.256 este ano. Essa queda acentuada apoia os cenários de alta mortalidade adulta previstos pelos pesquisadores.

Os elefantes-marinhos estão gravemente afetados pela gripe aviária. Foto: WCS Argentina. A gripe aviária afeta várias espécies. Foto: WCS Argentina.

Uma epidemia que preocupa os especialistas

“Em apenas algumas semanas, a epidemia revertu meio século de recuperação sustentada“, alertou a Dra. Marcela Uhart, diretora do Programa da América Latina da Universidade da Califórnia Davis e coautora do estudo. “A gripe aviária deixou claro o enorme impacto que as doenças infecciosas podem ter sobre a vida selvagem. E esses efeitos podem piorar nas condições atuais e futuras das mudanças climáticas”.

O Dr. Claudio Campagna, consultor sênior da WCS Argentina, acrescentou outro aviso: “Apenas as populações resilientes sobreviverão a ameaças como esta. Para alcançar isso, é necessário reduzir outras fontes de mortalidade de origem humana como a pesca intensiva, a poluição ou a expansão agrícola. Mas as mudanças climáticas e a acidificação dos oceanos estão fora de controle. Neste contexto, uma epidemia pode ser o caminho para a extinção”.

A WCS Argentina destaca a importância de continuar com a monitorização periódica desta espécie para detectar a tempo mudanças em seu estado de saúde e evitar maiores perdas. Também pedem a proteção das áreas de reprodução, especialmente durante os meses críticos de agosto a novembro, e propõem medidas como a zonificação de atividades humanas —como a pesca esportiva ou o tráfego de veículos— que geram distúrbios durante o período reprodutivo.

“A Península Valdés abrigava uma das populações mais saudáveis de elefantes-marinhos do sul, protagonistas de um ecossistema único e espetáculos naturais incomparáveis. Hoje, após a epidemia, precisamos mais do que nunca o compromisso da comunidade científica, das autoridades e dos doadores para conservar esta e outras espécies que refletem a saúde de nossos ecossistemas marinhos e costeiros”, concluiu Valeria Falabella, diretora de Conservação Costeira-Marinha da WCS Argentina.

Elefante-marinho. Foto: WCS Argentina. Elefante-marinho. Foto: WCS Argentina.

Como a gripe aviária afeta diferentes espécies?

A gripe aviária em animais, causada pelo vírus da influenza aviária, pode ter consequências graves que vão desde a perda na produção de ovos e morte súbita em aves, até a possibilidade de transmissão a outras espécies, incluindo mamíferos e seres humanos. Em aves domésticas, pode causar doenças graves e alta mortalidade, com uma taxa de 90% a 100% em frangos. Também pode afetar animais selvagens, causando surtos e mortes em várias espécies.

Consequências em aves

  • Em aves domésticas: Perda na produção de ovos, morte súbita, dificuldades respiratórias, inflamação ocular, secreção nasal e outros sintomas.
  • Em aves selvagens: Surto de mortes, afetando especialmente espécies aquáticas e costeiras.

Formas da doença

  • Altamente patogênica (HPAI): Causa doenças graves e alta mortalidade em aves infectadas, incluindo frangos e perus.
  • Baixa patogenicidade (LPAI): Pode causar sintomas leves ou imperceptíveis, como menor consumo de alimentos, sinais respiratórios ou diminuição na postura de ovos.

Consequências em outros animais e humanos

  • Mamíferos: A gri

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