Em resposta ao crescimento de criadouros de animais ilegais e sua comercialização sem regulação, o Conselho Municipal de Rosario está debatendo uma reforma profunda da ordem 7.445, que regula a posse e circulação de animais domésticos.
A iniciativa, que já está sendo discutida em comissões, contempla três modificações-chave: a proibição de criadouros de animais de raça com fins comerciais, a obrigatoriedade de placas identificadoras em animais de estimação, e a designação formal da Secretaria de Controle como autoridade de aplicação.
A proposta responde a uma problemática em crescimento: resgate de animais de raça em condições de abandono, denúncias de vizinhos sobre cães desnutridos e maltratados, e a venda maciça de filhotes em redes sociais e sites, sem controle ou regulação.
“É contraditório que a prefeitura promova campanhas de esterilização enquanto não atua diante do negócio clandestino de reprodução e venda de animais de estimação”, indica o texto do projeto, ao qual teve acesso Rosario3.
Cinco anos para fechar os criadouros autorizados
A mudança mais significativa é a proibição total de criadouros de cães e gatos dentro do perímetro urbano. O projeto, impulsionado pela vereadora Norma López, estabelece um prazo de cinco anos para que os criadouros atualmente autorizados fechem suas portas ou se mudem para fora da cidade. Durante esse tempo, devem apresentar uma declaração juramentada dos animais sob sua responsabilidade, todos identificados com microchips ou tatuagens, e não poderão ampliar a atividade.
A iniciativa foi originalmente apresentada em 2022, mas havia expirado. Agora, diante do aumento de criadouros clandestinos, foi retomada e conta com o apoio de protetores, veterinários e organizações de defesa animal.
Identificação obrigatória e mudança no controle
Outra modificação proposta pela ordenança é que todos os animais de estimação circulem com uma placa identificadora, que inclua o nome do responsável e o telefone de contato. Embora sua aplicação efetiva ainda esteja em discussão, busca-se estabelecer multas simbólicas para promover a responsabilidade na posse.
Além disso, formaliza-se uma mudança que já está em prática: a Secretaria de Controle e Convivência Cidadã passará a ser a autoridade de aplicação da normativa. Dessa forma, são separadas as funções de controle e fiscalização daquelas ligadas à saúde animal, como castrações e adoções, que continuarão sob a órbita do Imusa.
Articulação com outras áreas e o papel da Justiça
Funcionários municipais como Maximiliano Levrand (coordenador de Políticas Transversais de Saúde Animal) e José Ignacio Mangiameli (diretor de Políticas Interdepartamentais) confirmaram que estão trabalhando de forma articulada com Proteção Civil, Polícia Ecológica e Promotoria, para melhorar a resposta às denúncias de maus-tratos e abandono, bem como à adoção responsável de animais resgatados.
Mangiameli destacou que muitas vezes há obstáculos legais para a adoção de animais, visto que os procedimentos nem sempre são claros e faltam definições sobre seu status legal.
Venda com controle veterinário e apreensão em caso de irregularidades
Caso a reforma seja aprovada, a venda de cães e gatos só poderá ser realizada se os animais tiverem identificação eletrônica, caderneta de saúde e certificados emitidos por veterinários registrados. Além disso, estabelece-se que qualquer comercialização sem autorização será sancionada com fechamento imediato, apreensão de animais e penalidades nos criadouros de animais clandestinos, de acordo com o Código de Infrações.
O projeto reforça a ideia de que o bem-estar animal deve prevalecer sobre o lucro, e que o abandono e a superpopulação não são consequências isoladas, mas parte de um sistema que requer regulação e compromisso político.