Localizado na península de Brunswick, na Região de Magalhães, o rio San Juan de la Posesión é um dos principais afluentes do Estreito de Magalhães. Sua foz, em Punta Santa Ana, foi o foco de um estudo que desafia as expectativas sobre a relação entre o fluxo dos rios e a salinidade da água.
Desde 2018, cientistas do Centro de Pesquisa em Dinâmica de Ecossistemas Marinhos de Altas Latitudes (IDEAL) da Universidade Austral do Chile (UACh) monitoram a área com uma estação oceanográfica instalada na foz do rio. Atualmente, um recente artigo publicado na revista Regional Studies in Marine Science revelou descobertas inesperadas sobre a dinâmica da água na região.

O vento, um fator chave na salinidade da água
O estudo, liderado pelo Dr. José Garcés-Vargas e pelo biólogo marinho Vicente Aravena, descobriu que o fluxo do rio San Juan não tem uma relação direta com a redução da salinidade, algo que contradiz a teoria comum.
“Esperaríamos que um maior fluxo do rio, por ser água doce, reduzisse a salinidade na região, mas surpreendentemente isso não ocorreu”, explicou o Dr. Garcés-Vargas.
Os pesquisadores determinaram que o vento desempenha um papel crucial nesse processo. Dependendo de sua direção, pode expandir ou contrair a pluma de água doce, afetando assim a salinidade da coluna de água. Além disso, observou-se que as maiores mudanças de salinidade ocorrem nos primeiros cinco metros de profundidade, enquanto em camadas mais profundas, a variação é mínima.
Outra descoberta importante é que a água sub-superficial na região vem do Oceano Pacífico, o que contribui para manter uma relativa estabilidade nas condições de salinidade.
Impacto na biodiversidade e mudanças climáticas
As mudanças na estrutura da coluna de água afetam diretamente os organismos marinhos do Estreito de Magalhães e a salinidade do rio San Juan de la Posesión. “Quando a água está estratificada, são criadas barreiras que podem dificultar o deslocamento de algumas espécies”, explicou Garcés-Vargas.
Muitos organismos dependem de faixas específicas de temperatura e salinidade para sobreviver. Se esses parâmetros forem modificados, algumas espécies podem não se adaptar, levando a uma redução em suas populações.
O estudo também alerta sobre o impacto das mudanças climáticas, que podem alterar ainda mais a dinâmica do rio San Juan. O aumento dos ventos e do degelo afetariam a estrutura da água, com consequências diretas para os ecossistemas marinhos e as comunidades que deles dependem.
Dado que a área foi solicitada como Espaço Costeiro Marinho dos Povos Originários (ECMPO) pela comunidade indígena Kawésqar Grupos Familiares Nômades do Mar e a Comunidade Indígena Atap, pesquisas como essa são fundamentais para sua preservação.
“Esses estudos permitem compreender melhor a importância da área, não apenas do ponto de vista científico e de conservação, mas também para os povos originários que dependem de seus recursos marinhos”, concluiu Aravena.
