O Observatório Europeu do Sul (ESO) alertou que um “megaprojeto industrial” ameaça os céus sobre o Observatório Paranal, no deserto de Atacama, no Chile, considerados os mais escuros do mundo e um dos “tesouros astronômicos mais importantes”.
O projeto que ameaça os céus mais escuros
Este megaprojeto, previsto para ser localizado entre 5 e 11 quilômetros dos telescópios de Paranal, poderia causar “danos irreparáveis às observações astronômicas, em particular devido à poluição luminosa emitida durante toda a vida operacional do projeto”, indicou o ESO em comunicado.
A empresa AES Andes, subsidiária da empresa elétrica norte-americana AES Corporation, apresentou no dia 24 para a avaliação de impacto ambiental, o projeto de um complexo industrial de mais de 3.000 hectares. Este projeto inclui a construção de um porto, plantas de produção de amônia e hidrogênio e milhares de unidades de geração de eletricidade perto de Paranal.
O ESO assegura que a realocação deste projeto “continua sendo a única forma eficaz de evitar danos irreversíveis aos céus únicos de Paranal”, o que “salvaguardará o futuro da astronomia”. O diretor-geral do ESO, Xavier Barcons, indicou que um projeto dessa natureza “tão próximo de Paranal representa um risco crítico para os céus noturnos mais intocados do planeta”.
Consequências ambientais e científicas
As emissões de poeira durante a construção, o aumento da turbulência atmosférica e, especialmente, a poluição luminosa “terão um impacto irreparável nas capacidades de observação astronômica, que até agora têm atraído investimentos multimilionários por parte dos governos dos Estados Membros do ESO”, acrescentou.
Observatório Paranal em Atacama
O Observatório Paranal, construído e operado pelo ESO, possibilitou importantes avanços astronômicos, como a primeira imagem de um exoplaneta e a confirmação da expansão acelerada do universo, além de ser um ativo fundamental para a comunidade astronômica mundial, incluindo a do Chile.
Suas observações foram fundamentais para as pesquisas sobre o buraco negro supermassivo localizado no centro da Via Láctea, que renderam o Prêmio Nobel de Física em 2020.
Além disso, o vizinho Cerro Armazones abriga a construção do Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, o maior telescópio do mundo em sua categoria, uma instalação revolucionária que mudará drasticamente o que sabemos sobre nosso Universo.
Atacama é “um laboratório natural único para a pesquisa astronômica” devido à sua estabilidade atmosférica e seus céus escuros, características “essenciais” para projetos que buscam abordar questões como a origem e evolução do universo ou a busca por vida e habitabilidade em outros planetas, lembra o ESO.
A representante do ESO no Chile, Itziar de Gregorio, afirmou que “é crucial considerar locais alternativos” para o referido projeto industrial que “não coloquem em perigo um dos tesouros astronômicos mais importantes do mundo”.
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