A Câmara Municipal de Calbuco, no Chile, reportou um sério dano ecológico no humedal Estero Rulo, uma área protegida por decreto municipal, devido à intervenção ilícita da empresa de salmonicultura Novofish.
O prefeito Marco Silva confirmou que duas lagoas secaram e três áreas úmidas foram drenadas, causando um impacto irreparável no ecossistema local.
Em 17 de fevereiro de 2025, os moradores da região do Rulo alertaram as autoridades sobre a intervenção no humedal, reconhecido como uma área protegida pelo Decreto Municipal Nº 8647, como mencionado na Declaração Pública da Câmara Municipal de Calbuco em 23 de fevereiro. No entanto, os proprietários do terreno, relacionados à Novofish, dificultaram o acesso inicial dos fiscais municipais.
Diante dessa situação, o prefeito ordenou a paralisação imediata das obras e apresentou uma denúncia no Juizado de Polícia Local e na Superintendência do Meio Ambiente (SMA).
Reações e medidas diante do dano ambiental
Em 24 de fevereiro, o prefeito Silva se reuniu com os moradores para coordenar ações. A comunidade expressou sua preocupação com o impacto na biodiversidade do humedal, um ecossistema vital para o município. “Não permitiremos intervenções que atentem contra o equilíbrio ecológico”, afirmou Silva, reiterando seu compromisso com a proteção ambiental, conforme informado em um comunicado da Câmara Municipal de Calbuco nas redes sociais em 24 de fevereiro.
Em 25 de fevereiro, uma inspeção no local, acompanhada pela Secretária de Meio Ambiente, Liliana Alarcón, e pela força policial, constatou o grave dano.
Ações legais e comunitárias
A empresa de salmonicultura Novofish alega que o terreno é destinado à reflorestação, não a atividades comerciais ou industriais. No entanto, os moradores e autoridades negam essa versão, apontando que a instalação de tubulações e o escoamento de corpos d’água evidenciam um propósito diferente.
O humedal Estero Rulo é um ecossistema crítico para a biodiversidade de Calbuco, e sua destruição representa um atentado ao patrimônio natural do município. As multas por intervenções ilegais em áreas protegidas podem chegar a até 5 UTM, mas o dano ambiental já é irreversível, conforme a Declaração Pública da Câmara Municipal de Calbuco emitida em 23 de fevereiro.
A Câmara Municipal de Calbuco implementou o uso de drones e outras tecnologias para monitorar o cumprimento da legislação ambiental. Além disso, convocou a comunidade a denunciar qualquer intervenção ilegal em áreas protegidas, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável, segundo destaca a declaração pública.
A origem das empresas de salmonicultura no Chile
O salmão foi introduzido no Chile no início do século XX, mas foi somente no final dos anos 80 que a ditadura de Pinochet impulsionou a indústria salmonicultora, tornando-a uma das mais produtivas do país. No entanto, mais da metade das empresas do setor são estrangeiras, principalmente norueguesas, e operam na região patagônica chilena.
A Noruega também introduziu no Chile tecnologias de criação intensiva, como as gaiolas submersíveis, onde centenas de milhares de salmones são engordados por meio de um sistema de alimentação automatizado, para então serem “colhidos” por meio de mangueiras que os sugam e os levam às plantas processadoras.
Impacto ambiental das salmoniculturas no Chile
Enquanto na Noruega o salmão é uma espécie selvagem que se alimenta de crustáceos, adquirindo assim sua cor característica, no Chile é necessário adicionar corantes à sua alimentação para que a carne do peixe fique rosada. Além disso, eles são tratados com grandes quantidades de antibióticos para sobreviverem fora de seu habitat natural. Devido a isso, as fezes dos peixes contaminam as águas e os leitos marinhos.
As empresas salmonicultoras transnacionais cumprem a legislação em seus países de origem, mas no Chile aproveitam a falta de controle por parte das autoridades locais para criar muito mais salmões do que o permitido. Essa sobreprodução causou a fuga das gaiolas de milhões de exemplares, que predaram as espécies locais e afetaram gravemente o equilíbrio marinho. Além disso, as altas demandas de oxigênio causadas pela densidade dos peixes nas gaiolas de cultivo reduzem o oxigênio dissolvido, criando as chamadas zonas mortas que matam a vida oceânica.
A indústria salmonicultora continua se expandindo pela Patagônia, cada vez mais em direção ao sul. Após saturar o mar em Chiloé e Aysén, agora chegou até o Cabo de Hornos, no extremo austral. Em seu avanço, juntamente com os ecossistemas marinhos, essa indústria está acabando com as formas de vida de povos indígenas e comunidades locais.
Foto da capa: arquivo RadioJGM
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