O drama do deserto de Atacama, no Chile, que já tem quantidades escassas de água, é agravado pela extração de lítio.
Trata-se de uma atividade altamente invasiva que coloca em risco o frágil ecossistema do deserto, sua vida selvagem e os meios de subsistência dos indígenas que lá vivem.
Além disso, a exploração de outros elementos como o cobre ou potássio, que também requerem água no processo.
O drama do deserto de Atacama: excesso de extração de lítio
O que acontece com os salares diante da extração de lítio.
A mineração de lítio consome quantidades insustentáveis de água, além de contaminar o ambiente.
Isso afeta diretamente a sobrevivência do povo atacameño Lickanantay, cujo território abrange este deserto como parte de seu patrimônio ancestral. Assim foi estabelecido através dos direitos concedidos pela Lei Indígena 19.253 ao Estado do Chile.
Portanto, a sobrevivência e o modo de vida dessas pessoas dependem da agricultura, pecuária e colheita sustentáveis.
O salar do deserto e sua importância central
Além disso, outro ponto chave é que os salares, como outros ecossistemas, podem extinguir-se.
“Os salares são ecossistemas aquáticos, que no passado eram grandes lagos, grandes paleolagos, que com o tempo foram evaporando, secando e também separando-se entre si”, explicou Cristina Dorador, licenciada em Ciências com menção em Biologia pela Universidade do Chile (2002) e doutora em Ciências Naturais pela Universidade de Kiel.
“Esses legados de antigos lagos ficaram localizados no norte da Argentina, no norte do Chile e também no sul da Bolívia, e são fundamentais para a região onde estão, porque estamos falando de uma zona bastante árida, principalmente na parte chilena, como o deserto de Atacama, portanto, são os reservatórios de água dos Andes“, disse em diálogo com Mongabay Latam.
“Pelo menos na parte chilena, o Salar de Atacama é o berço da nação Lickanantay Atacameña, a partir do qual se desenvolveu uma cultura milenar de mais de 11.000 anos“, enfatizou Dorador. “Por isso são cruciais para a vida das pessoas, especialmente nas práticas agrícolas e pecuárias”, acrescentou.
É possível avançar em uma transição energética sem essa extração de lítio?
No mesmo artigo, a especialista considerou o problema gerado pela extração de lítio em países ricos neste mineral, diante da necessidade de utilizá-lo para a transição.
“A eletromobilidade tem sido uma das alternativas mais impulsionadas pelos países, para a qual são necessárias baterias de lítio“, disse. “A questão, eu acredito, é que não se tem considerado em sua magnitude o que implica a obtenção de lítio de ecossistemas frágeis e únicos como os salares”, afirmou Dorador.
As baterias de lítio são consideradas essenciais para a transição, mas o recurso não é infinito.
A especialista considerou que este tema não está incorporado na equação quando se fala em transição energética. “Por isso se fala muito pouco sobre o assunto em nível local. Por exemplo, para que é necessário o lítio? Porque se estamos apenas pensando na substituição de carros de energia fóssil por carros elétricos, na verdade nem mesmo o lítio existente no planeta é suficiente“, apontou.
“Também se inclui pouco nesta conversa os limites planetários e novamente os efeitos que ocorrem em nível local. A destruição da biodiversidade também é um tópico que está ligado à crise climática”, destacou.
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