Sob a ameaça de incêndios criminosos, indígenas da Bolívia reflorestam sua selva queimada.

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A selva seca da Chiquitania, localizada na Bolívia e fazendo fronteira com o Brasil, está começando a se recuperar lentamente depois de ter sido devastada pelos incêndios florestais mais catastróficos de sua história.

Diante desse cenário desolador, as mulheres de Santa Ana de Velasco, uma comunidade de 1.700 habitantes a 430 quilômetros de Santa Cruz, lideram um ambicioso projeto de reflorestamento para trazer de volta a vida às florestas e garantir seu sustento.

Apesar das chuvas recentes, a escassez de água continua afetando as plantações, agravando as dificuldades dessa população, composta principalmente por mulheres indígenas, que decidiram se unir para combater a destruição ambiental.

Através de um inovador método de reflorestamento, conhecido como “bombardeio de sementes”, eles preparam esferas de terra carregadas com sementes de árvores nativas. Esse esforço conta com o apoio de fundações e tecnologia de drones para cobrir grandes extensões de terra.

O desafio dos “chaqueos” e a recuperação

Os incêndios florestais, exacerbados pela crise climática e pela prática agrícola dos “chaqueos”, deixaram cicatrizes profundas na paisagem. Os “chaqueos” consistem na queima de florestas para preparar o solo para o cultivo, uma técnica que aumenta o risco de incêndios incontroláveis.

Entre junho e outubro de 2024, mais de 10,7 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas, de acordo com o Instituto Boliviano de Pesquisa Florestal (IBIF). Dessa área, 63,6% correspondia a áreas florestais.

Julia Ortiz, uma das líderes do projeto, em entrevista à agência AFP lamenta os estragos causados pelos incêndios e pelos chaqueos: “Trabalhamos com o risco de que o fogo se descontrole, mas não temos outra opção”.

Apesar dos obstáculos, as mulheres de Santa Ana se agarram à esperança de que sua iniciativa de reflorestamento reverta o dano ecológico e lhes permita recuperar a vitalidade anterior à selva queimada.

Tecnologia e consciência: um futuro sustentável

Com o apoio da Fundação Flades e Swisscontact, está previsto lançar em março o primeiro “bombardeio de sementes” em 500 hectares usando drones.

Esse projeto não busca apenas reflorestar, mas também conscientizar a população sobre os riscos dos queimadas descontroladas e a necessidade de se preparar para extinguir novos incêndios rapidamente.

A falta de regulamentações rigorosas e políticas permissivas, como isenções de penalidades por incêndios, têm contribuído para a degradação ambiental. Além disso, a crise hídrica, agravada pelos incêndios, limita a capacidade de recuperação da região.

Sobre as cinzas de uma floresta que ainda luta para renascer, o desejo é que os fogos não retornem. Esse esforço coletivo liderado pelas mulheres de Santa Ana simboliza uma luta não apenas pela terra, mas também por um futuro mais sustentável e equitativo para sua comunidade.

Selvas queimadas e mudanças climáticas: uma combinação a ser evitada

O relatório da WWF “Incêndios, florestas e o futuro: uma crise fora de controle” aponta que globalmente 75% dos incêndios são causados pela atividade humana, seja de forma intencional ou por negligência. Nesse contexto, as mudanças climáticas amplificam e agravam os incêndios devido à falta de regulamentação, previsão e prevenção.

Além disso, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, 2024 foi o ano mais quente da história globalmente. O planeta ultrapassou a temperatura de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, o que gera eventos extremos como ondas de calor, secas prolongadas, chuvas intensas e inundações.

Foto da capa: Rodrigo Urzagasti 

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