A Amazônia peruana compreende uma área de 782.880,55 km² localizada a leste da Cordilheira dos Andes. É uma das regiões do planeta com maior biodiversidade e espécies endêmicas, abrangendo duas regiões naturais: a selva baixa e a selva alta, e ocupando mais de 60% do território peruano.
Embora esta área tenha a menor densidade populacional do país, é a mais diversa antropologicamente, abrigando a maioria das etnias peruanas e a maioria das línguas autóctones do Peru. No entanto, também é uma região de grandes conflitos devido a atividades ilegais como desmatamento e mineração.
Novas espécies na Amazônia peruana
Um peixe com cabeça de globo e olhos esbugalhados é uma das descobertas mais fascinantes feitas por uma equipe de cientistas peruanos do Programa de Avaliação Rápida (RAP) da Conservação Internacional no Peru.
Esta nova espécie, chamada Chaetostoma sp., é um mistério para os pesquisadores devido à sua cabeça alargada em forma de bolha, uma característica jamais vista antes.
“Este peixe é um tipo de bagre e é um enigma para nós, pois não sabemos como funciona sua estrutura incomum”, disse Trond Larsen, líder do Programa de Avaliação Rápida da Conservação Internacional no Centro Moore para a Ciência.
Além deste peixe, os pesquisadores registraram outras 26 novas espécies, incluindo quatro mamíferos, dez peixes, três anfíbios e dez borboletas, todas descobertas na paisagem do Alto Mayo. Ou seja, nas comunidades indígenas e áreas próximas à Floresta de Proteção Alto Mayo, onde os Andes e a Amazônia se encontram na América do Sul.
Descoberta extraordinária e sua importância
A equipe, composta por oito cientistas da Global Earth e seis especialistas da Federação Regional Indígena das Comunidades Awajún do Alto Mayo, realizou uma expedição biológica de 45 dias durante o verão de 2022, cujos resultados foram apresentados em dezembro de 2024.
Das 2.046 espécies identificadas, 49 estão ameaçadas de extinção de acordo com a Lista Vermelha da IUCN, como o sapo arlequim (Atelopus seminiferus), o macaco chorão de cauda amarela (Lagothrix flavicauda) e o sagui de San Martín (Plecturocebus oenanthe).
A expedição é considerada um sucesso por ter descoberto quatro novos mamíferos: um morcego do gênero Carollia, um esquilo (Microsciurus sp.), um raro rato anfíbio do gênero Daptomys e um rato espinhoso do gênero Scolomys.
Os cientistas identificaram na flora 950 espécies, incluindo cinco endêmicas da região de San Martín e três potencialmente novas para a ciência: Stylogyne sp., Ilex sp. e Schefflera sp.. Nos insetos, detectaram mais de 200 espécies de borboletas, sendo 14 registradas pela primeira vez no Alto Mayo, e 70 espécies de besouros necrófagos, duas delas novas para a ciência. Além disso, documentaram 27 espécies de anfíbios, 18 de répteis e 536 de aves, um número elevado devido à variedade de ecossistemas na área.
ADN ambiental e sustentabilidade
Um dos métodos inovadores utilizados foi o ADN ambiental (ADNe), que analisa amostras de água para avaliar a distribuição de organismos em sistemas aquáticos. Os pesquisadores coletaram amostras de água em toda a bacia do Alto Mayo, detectando o ADN de 261 espécies de vertebrados, incluindo peixes, anfíbios, aves e mamíferos.
A Amazônia peruana, com suas montanhas de floresta nublada na região de San Martín, abriga grandes cidades e vilarejos que impulsionam o desmatamento, bem como comunidades awajún, o segundo maior povo indígena da Amazônia peruana. Yulisa Tuwi, líder do povo awajún, destacou que o estudo biológico realizado confirma o trabalho cultural na conservação de espécies e áreas dentro do Alto Mayo.
A Conservação Internacional afirmou que esses resultados ajudarão a identificar áreas prioritárias de proteção, trabalhando em conjunto com o governo regional de San Martín e as comunidades locais e indígenas para conservar a floresta do Alto Mayo.
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