Em um mundo enfrentando uma crise ambiental sem precedentes, a conservação dos ecossistemas se tornou uma prioridade. No entanto, as estratégias tradicionais ignoraram os Povos Indígenas e comunidades locais (PICL), que habitaram e geriram esses territórios por séculos. A “conservação inclusiva” busca reverter essa tendência, integrando seus conhecimentos e formas de vida na proteção da biodiversidade.
Para muitas comunidades indígenas, a natureza não é apenas um recurso, mas uma extensão de sua identidade cultural e espiritual. Seus territórios são espaços onde se entrelaçam relações de reciprocidade e respeito. Esse enfoque contrasta com a visão ocidental, que tende a separar a cultura da natureza e a aplicar modelos de conservação baseados exclusivamente na ciência biológica.
Inúmeros estudos demonstraram que os ecossistemas mais bem conservados do mundo coincidem com territórios indígenas. No Chaco, por exemplo, os povos indígenas mantiveram a biodiversidade por meio de suas práticas de caça, coleta e manejo da água. Apesar disso, muitas políticas de conservação excluíram essas comunidades, chegando a deslocá-las de suas terras para criar áreas protegidas.
A conservação como uma questão de direitos
A exclusão dos PICL não é apenas um erro ecológico, mas também uma violação de direitos. Mais de um milhão de pessoas foram desalojadas em nome da conservação. Na Argentina, a criação do Parque Nacional El Impenetrable afetou a comunidade Wichí Nueva Población, que perdeu acesso aos seus meios de subsistência e viu sua segurança alimentar ameaçada.
Diante desse cenário, a conservação inclusiva propõe uma colaboração equitativa entre comunidades, cientistas, governos e organizações. Trata-se de reconhecer os PICL como protagonistas na gestão de seus territórios e garantir que seus saberes sejam considerados na tomada de decisões.
Avanços e desafios
A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) criou categorias de áreas protegidas que permitem a gestão indígena, e muitas iniciativas ao redor do mundo demonstraram que a conservação é mais eficaz quando se respeitam os direitos dessas comunidades. No entanto, persistem obstáculos como marcos legais restritivos, interesses privados e discriminação estrutural.
O caminho para uma conservação inclusiva requer mudanças políticas e sociais profundas. Não se trata apenas de proteger a biodiversidade, mas de reconhecer que a justiça ambiental e os direitos humanos são inseparáveis. Em última análise, a proteção do planeta também implica aprender com aqueles que conviveram com ele por gerações.
Os povos originários e seu papel fundamental com o meio ambiente
Este estudo não é o único a afirmar a importância dos povos indígenas para o planeta, pois contribuem para a conservação do ambiente e das espécies. Essas comunidades conseguiram desenvolver conhecimentos e práticas tradicionais que são úteis para o uso sustentável dos recursos naturais, visto que:
- Conservam a biodiversidade: selecionaram e adaptaram suas plantas e animais a diferentes zonas climáticas.
- Gerenciam os recursos hídricos: construíram casas tradicionais que consomem pouca água em áreas secas.
- Reduzem a erosão: desenvolveram práticas de agricultura e pecuária sustentáveis.
- Controlam a mudança climática: criaram práticas resilientes ao clima, como a agrossilvicultura.
- Preparam-se para desastres: implementaram estratégias de adaptação às mudanças ambientais.
Graças aos conhecimentos e habilidades desenvolvidos ao longo de muitos anos, os povos indígenas podem liderar as decisões sobre a mudança climática. Esses conhecimentos e experiências podem se tornar ferramentas fundamentais para encontrar soluções eficazes e sustentáveis.
Autora: Micaela Camino/Latinoamérica21.
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